28 de setembro de 2010

Receitas e Estatisticas

Há quem diga que toda a gente passa por uma crise de meia idade, onde faz um balanço da suposta meia vida que já viveu e chega à conclusão que a viu viver mais propriamente do que a experienciou. É sempre um balanço negativo, pois senão não haveria crise. As pessoas bem equilibradas não têm crises. Porque as pessoas bem equilibradas não vivem no mesmo mundo que o nosso.

Na nossa era, as crises de meia idade já não acontecem aos 50. Acontecem aos 25, aos 30 aos 40 e por aí adiante. As pessoas param, olham em redor das suas vidas analisam, comparam estatisticamente com o que é a suposta felicidade e desesperam.

Em busca de receitas que lhes devolva esse tempo que perderam, em buscas materiais, profissionais de lazer, esse tempo que consideram perdido por nada ter sido atingido voltam-se para as receitas que se vendem naquela prateleira da livraria dos livros de Auto-Ajuda.

Quanto mais nos aproximamos da era da evolução tecnológica, dos grandes acontecimentos, o equilíbrio do homem perdeu-se. Já não é preciso grande esforço para ir a lado nenhum. As low cost puseram o longe perto. Já não é preciso ir a cursos longe de casa, já não é preciso sair de casa para ... nada. Tudo se pode comprar pela Internet: comida, novos aparelhos electronicos, mobiliário, papel higienico... não há nada que não se consiga comprar sem sair de casa.

Vivemos numa era de facilitismos. De encontros online sem se sair de casa. Não olhamos mais para a cara dos nossos amigos, quase que nem falamos, pois substituímos os telefonemas por chats ou sms.

Está tudo ao nosso alcance, tudo ali. Tudo tão fácil. E é neste mundo que as estantes de de livros de auto-ajuda proliferam e vendem aos milhares. No meio do facilitismo o Homem esqueceu-se do prazer de lutar pelo que precisa. O Homem aos poucos esquece-se do contacto com os outros, do contacto com a Natureza, do contacto consigo mesmo.

O Homem, enquanto individuo, sabe menos de si do que um navegador no século XVI. Sucumbimos ao externo, ao materialismo, ao que os outros querem que nós sejamos.

A informação está por todo o lado. Sobre todos os temas que podemos querer saber. 

Mas acho que mais do que nunca o Homem está numa crise existencial. A definição de quem somos e para onde vamos mais cedo nos preocupa, mais tarde é alcançada.

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